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Pare de se desculpar


mulher se abraçando, amor próprio

A palavra “culpa” possui várias acepções nos dicionários de língua portuguesa, algumas ligadas à ideia de conduta imprudente com ou sem o propósito de lesar alguém, até a definição do sentimento resultante da consciência por violarmos uma regra moral. É palavra comum às religiões no sentido de pecado também. Ou seja, há uma variedade de definições, mas somente duas posturas do “acusado” frente às censuras da sociedade: considerar-se ou não culpado. E essa escolha é definida por nossas crenças.


E aqui não falo somente de crenças religiosas, mas daquelas verdades que para nós nos parecem absolutas. Essas verdades variam muito de pessoa para pessoa, pois nós somos moldados por aqueles que nos tutelam: pais, professores, líderes religiosos, além de toda informação a que somos submetidos desde pequenos. Além de muitas vezes sermos alvos da acusação alheia, aprendemos — com excelência — a culpar as pessoas sem nenhum pudor. E assim vivemos num mundo em que tomamos mais conta dos outros do que de nós mesmos.


De todas essas reflexões acerca da palavra em questão, cabe uma pergunta interessante: “Por que, diante da mesma situação, alguns se culpam e outros não?”. Algumas pessoas poderiam justificar que isso depende da índole de cada um, só que caímos mais uma vez na tentação de culpar alguém por estar agindo de maneira errada, “pior do que nós”. Percebe a armadilha? Vivemos envoltos na ideia de “certo” e “errado” o tempo todo. Somos aqueles que julgam, condenam e punem sem dó nem piedade por nos considerarmos os donos da verdade.


De novo, precisamos nos voltar para aquela velha máxima do autoconhecimento: “Tudo começa e termina dentro de nós”. Só culpamos os outros porque nos sentimos culpados também; só nos sentimos acusados por alguém porque, no fundo, estamos sempre nos acusando, sentindo-nos culpados pelos males do mundo, carregando nas costas o fardo da culpa. “Mea culpa, mea culpa, minha máxima culpa” era a expressão latina usada nas missas católicas para expressar o arrependimento do fiel por ter pecado. Mas parece que ainda hoje vivemos nos aplicando chibatadas para nos sentirmos melhor.


Todo esse sentimento de culpa nasce ainda muito cedo em nossas vidas. Quando estamos em nossa primeira infância — que vai até cerca de seis anos —, temos uma relação de total dependência com os nossos pais, por quem queremos ser amados, de preferência com exclusividade. Não é preciso ser especialista para saber que isso é muito difícil de se consolidar, visto que os pais também são seres humanos e, por isso, podem ser tão (ou até mais) imaturos do que os filhos no que diz respeito às carências afetivas.


Em geral, isso pode gerar na criança um sentimento de revolta, que entra em conflito com toda a necessidade imposta pela sociedade de sermos “bonzinhos”, de não expressarmos nossa raiva, de sempre nos adaptarmos às vontades dos outros. À medida que o tempo passa, e a criança passa à segunda infância, vai ocultando no seu subconsciente a ideia de que, por reprimir aquela raiva dos pais, não é merecedora daquilo que o mundo lhe oferece de bom. E o que é pior: irá sempre sentir-se culpada quando atrever-se a aceitar a alegria de viver.


A partir daí, essa criança desenvolverá Partes em sua Mente que sobrevivem baseadas na obrigação de comportar-se direito diante do mundo para que não sinta novamente a culpa e, para conseguir sentir um pouco do amor de que carece em seu peito, passará a agradar às pessoas, mesmo contra a sua vontade. Além do mais, o sentimento de culpa irá invadir sua Mente sempre que o sentimento de não deixar alguém feliz de acordo com o seu padrão de felicidade — que é quase impossível de atingir — já que o tamanho da lacuna de sua carência é imensurável.

Então, fica mais fácil entender por que uma pessoa cria o hábito de desculpar-se por qualquer coisa, até por aquilo que não lesa alguém. A palavra “desculpar” pode resumir esse entendimento a partir de seu significado mais óbvio: “Eliminar ou atenuar a culpa de, justificar” (Dicionário Aurélio Digital). Quando pedimos desculpas a alguém, estamos implorando para que essa pessoa nos livre do peso da culpa que pode fazer com que nos sintamos carentes da aprovação dela. Por isso, para quem pede desculpas é tão importante ouvir uma resposta que o convença plenamente de que está sendo absolvido por seu suposto erro.


Mesmo pedindo desculpas, pensamentos de autopunição podem povoar-nos a Mente, pois o medo de sermos desaprovados recria aquela atmosfera da infância, quando almejávamos ser amados incondicionalmente por nossos pais. Aquela Parte que fora programada para comportar-se de acordo com uma referência externa vai propor-lhe que faça algo para resolver esse impasse. E nessa tentativa de resolução, nos desesperamos, pois ficamos extremamente inseguros quanto a essa ausência de aprovação do outro, que, na verdade, é um reflexo da nossa carência de autoaprovação.


Se temos o hábito de pedir desculpas sempre, é preciso levar em conta que, lá no fundo, estamos nos sentindo culpados por termos agido mal de acordo com o nosso padrão exigente de conduta. E por sermos tão exigentes com nós mesmos, cobramos do outro essa perfeição. Portanto, comece a olhar para si mesmo com amor. Sempre que sentir essa necessidade de desculpar-se ou de cobrar dos outros de maneira excessiva, dirija-se a você mesmo, para esse sentimento e — como sugere o Ho’oponopono ­— exercite o autoperdão, dirigindo a si mesmo palavras amorosas de forma paciente.


Chegou a hora de aprendermos a amar, sobretudo a nós mesmos: nossa maior vítima!


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Sobre o autor: 
Professor, Neuroeducador, Master Practitioner em PNL e Hipnoterapia e Coaching de vida – é fundador, junto de sua esposa, Sílvia Reze, do Instituto Recomece. 
 

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