Nada é por acaso (e outras frases que adoramos)
- Márcio Schitini

- 27 de out. de 2021
- 3 min de leitura

Nossa vida é repleta de clichês que usamos para justificar fatos que em geral nos são positivos. Adoramos dizer que nada é por acaso, que a vida é assim mesmo, que é o nosso Karma. Mas basta que chutemos o pé da cama com aquele dedinho mais frágil, e tudo vai por água abaixo. Blasfemamos contra o divino e ofendemos até a última geração conhecida na nossa árvore genealógica. Sem mencionar aquele dia maravilhoso em que fizemos tudo direitinho, e na hora de irmos para casa, alguém nos faz uma crítica e pronto: o dia acaba!
Depois disso, parece que tudo passa a ser fruto do acaso. Usamos a teoria de que somos azarados ou sortudos para explicar o que nos acontece de “ruim”. Aí, tudo passa a ser fruto de um determinismo, em que a liberdade de escolha e o livre arbítrio são meras ilusões. Não que eu discorde totalmente (já, já explicarei, prometo), mas me parece uma maneira bastante oportunista que encontramos de justificar a vida. Quando somos capazes de suportar o peso das coisas, dizemos que nada é por acaso; quando não, somos apenas vítimas do destino.
Diz o provérbio popular que não cai uma folha de uma árvore se Deus não quiser. Frase atribuída a Jesus, mas que, na verdade, encontra-se literalmente num trecho do Alcorão: “Ele possui as chaves do incognoscível, coisa que ninguém, além dele, possui; Ele sabe o que há na terra e no mar; e não cai uma folha (da árvore) sem que Ele disso tenha ciência(...)” (6ª Surata versículo 59). E aí nos vemos no dilema: “O que nos acontece é fruto de um destino ou temos o poder de definir esses acontecimentos? Pergunta difícil!
Nos últimos artigos, temos discutido a ideia de que não temos controle sobre os acontecimentos da vida. Então, somos meros marionetes guiados pela mão divina? Mas para quê? A resposta pode ser mais complexa do que esperamos, e eu também não a tenho. Desculpem-me! Teremos de deixar os porquês de lado e ficar com os fatos. Por outro lado, temos concluído que podemos escolher como podemos nos sentir quando chutamos o canto da cama ou somos criticados. E talvez aí possamos começar a compreender o que é essa vida e de como ela se apresenta para nós.
Agora, portanto, cumprirei a minha promessa de explicar por que o livre-arbítrio como o conhecemos deve ser repensado. E para isso, serei repetitivo. Se não temos controle dos acontecimentos da vida, então o que chamamos de livre-arbítrio já não faz sentido, não é mesmo? Mas ainda podemos escolher de que maneira nos harmonizaremos com o fato de que nem sempre as coisas saem como queremos. E aí nos cabe o poder da escolha. Isso pode nos ajudar a sermos mais felizes, evitando as frustrações advindas de nossa obstinação em governar as pessoas e os acontecimentos do mundo.
Trouxe este tema para entendermos quanto essa postura conveniente e hipócrita pode nos trazer dissabores na arte de viver aqui e agora. Enquanto sustentarmos a visão de que “nada acontece por acaso” para justificar o que nos é favorável, acabaremos adotando, diante dos obstáculos da vida, o comportamento de vítimas do mundo, apoiando-nos na tese de que só nos resta lamentar os desígnios desse Universo cruel e injusto. Tudo bem, é uma escolha nossa pensar assim. E isso também é livre-arbítrio!
Porém, está na hora de assumirmos um lado nesta batalha da vida se não quisermos sofrer com o óbvio. Precisamos nos engajar literalmente na ideia de que “Nada é por acaso”. Isso mesmo: LITERALMENTE! A frase não diz que alguns eventos são por acaso e outros, não. NADA é por acaso. Nada é nada. Significa que tudo tem uma razão de ser. O que você considera ruim e o que você considera bom. Este mundo não admite mais a hipocrisia de fingirmos que está tudo bem quando de fato não está. É preciso coragem e muita fé para seguir esse caminho. É um exercício de humildade e persistência.
Assuma a responsabilidade pela sua vida. O acaso é a teoria dos ignorantes! Proponha-se a olhar para dentro de si e buscar compreender o que o faz sentir-se mal em determinadas situações. Comece a trabalhar o vício de reclamar e sofrer em função das circunstâncias difíceis que lhe são apresentadas. Vitimizar-se só irá perpetuar essas sensações de fracasso e desânimo, num círculo vicioso que só se romperá a partir do autoconhecimento. Medite, faça HO’OPONOPONO ou outras técnicas que conhece e, se necessário, busque a ajuda de um terapeuta.
Lembre-se: essas mudanças são um ato de solidariedade com você, com as pessoas que o rodeiam e, consequentemente, com o Planeta Terra!

Sobre o autor:
Professor, Neuroeducador, Master Practitioner em PNL e Coaching de vida –é fundador, junto de sua esposa, Sílvia Reze,
do Instituto Recomece.








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