Como sair da Zona de Conforto?
- Márcio Schitini

- 10 de mar. de 2022
- 5 min de leitura

Segundo a Psicologia, “Zona de conforto” diz respeito ao comportamento em que há tendência a se acostumar com um estilo de vida, de comportamento e de pensamentos. Em geral, o indivíduo acaba não se esforçando em nada para evoluir ou mudar algum aspecto de sua existência para melhor. O termo traz uma certa pitada de ironia: tal zona de conforto não é real, já que a busca do ser humano pelo progresso é inevitável, e só busca o conforto aquele que não quer evoluir.
Ademais, o conforto nunca foi amigo do progresso. Há uma tendência da humanidade em estacionar quando recebe “de mão beijada” aquilo que deveria conquistar. Isso se vê muito nos filhos que herdam empresas ou bens pelos quais os pais batalharam uma vida toda. Não é raro que todo esse patrimônio escoe rapidamente por entre os dedos dos que se beneficiam de tais heranças. Outro exemplo é o assistencialismo oferecido pelo governo aos mais necessitados. Excetuando-se os casos mais raros, ele estimula visivelmente a estagnação de famílias inteiras.
O Universo está em constante expansão, e nós, como parte dele, também. O problema é que — e isso não é nenhuma novidade — a vida não é fácil: há altos e baixos o tempo todo, e lidar com nossas quedas exige determinação e persistência. Lutamos tanto para nos manter equilibrados, que nos sentimos mentalmente exaustos no final do dia, muitas vezes sem forças sequer para nos divertir, buscar uma atualização ou investir num relacionamento saudável com aqueles que nos são mais caros.
Todo esse processo ocorre em nossa Mente (para variar). Queremos ser a melhor versão de nós mesmos sempre, mas nossas memórias guardam ideias de fracassos anteriores, e elas costumam ser implacáveis. São Partes de nossa Mente portadoras de pacotes que envolvem sensações, sentimentos e pensamentos pautados no medo. Cada vez que entramos em contato com alguma experiência semelhante à dessas memórias, essa Parte traz à lembrança esse pacote e freamos todo o nosso potencial.
Esse “freio” instalado nessa Parte da Mente nada mais é do que um mecanismo de defesa para evitar novas “colisões” em nossa viagem. Um desses mecanismos é a preguiça. Quando ela atinge a força de vontade do indivíduo, a pessoa tem desejo de materializar ações, mas falta-lhe a força moral para sustentar o esforço da ação. A NEUROEDUCAÇÃO nomeia-a PREGUIÇA MORAL. Esforço, nesse caso, significa peso, cansaço e ter que medir forças com a inércia. Este é o momento em que nossa Mente repousa na famigerada ZONA DE CONFORTO e passa a procrastinar.
Observemos, então, a ironia do termo ZONA DE CONFORTO. Ninguém, de fato, sente-se confortável numa situação de estagnação, só nossa Mente, que sempre vai buscar maneiras de nos manter longe de experiências muito desafiadoras para evitar novos fracassos — de acordo com sua visão estreita do mundo. A Mente pensa de maneira egoísta sempre, pois foi programada para isso. Ela não quer saber se progredir é importante para nós, quer apenas cumprir o seu papel. É como uma criança que chora por um brinquedo novo e ignora o fato de o pai não poder comprá-lo por falta de recursos.
Dessa forma, para sair da ZONA DE CONFORTO, é preciso começar a reconhecer que está nesse lugar e querer a mudança. Isso já é um divisor de águas, visto que distingue claramente o seu desejo de mudar da ação da Mente, que quer se manter “deitada eternamente em berço esplêndido”. É o caminho da mudança, que, segundo a Programação Neurolinguística (PNL), vai do ESTADO ATUAL (EA) — baseado em crenças limitantes — para o Estado Desejado (ED) — conduzido por comportamentos de excelência. Um problema é a diferença que existe entre esses dois estados e, para superá-lo, precisaremos de recursos (capacidades, técnicas, estados mentais positivos).
Suponhamos que você se sinta desestimulado em seu emprego. Percebeu que já está há muito tempo no mesmo cargo e acabou se acostumando com aquela situação (Estado Atual). Começa a pensar na possibilidade de pleitear um novo cargo (Estado Desejado). No entanto, só de pensar nisso, o desânimo toma conta de seu ser inteiro. Sua Mente está atuando para evitar que você saia da ZONA DE CONFORTO. É o que ela faz de melhor. Ela vai lhe propor vários obstáculos para demovê-lo de seu objetivo, talvez por medo de enfrentar o novo ou por se sentir incapaz (PROBLEMA).
Comece a anotar tais comportamentos num caderno e o que seria preciso realizar para mudar tal situação (RECURSOS). Pergunte-se se essa mudança de cargo pode ser considerada ECOLÓGICA, ou seja, que consequências tal mudança provocaria em sua vida ou na vida das pessoas que vivem com você. Você pode fazer-se os seguintes questionamentos: “O que aconteceria se eu conseguisse o que desejo?”; “A quem mais isso afetaria?”; “Se pudesse tê-lo nesse momento, eu o aceitaria?”.
Preste atenção aos sentimentos de dúvida (“Sim, mas...”) e questione-se: “O que representam esses sentimentos de dúvida?”; “Como modificar meus objetivos para levá-los em consideração?”. Refletir sobre essas respostas pode funcionar como uma motivação para sair da sua ZONA DE CONFORTO ou até para buscar um novo objetivo, se você entender que o seu ESTADO DESEJADO é somente um “fogo de palha”. Pode ser que você precise de um novo desafio em outra empresa ou mudar completamente o foco de sua vida profissional a fim de atender a seus propósitos de vida.
Tudo isso pode ser aplicado a quaisquer experiências de nosso cotidiano: um relacionamento com um parceiro ou familiar, o modo de gerenciar nossa casa, a maneira como nos relacionamos com os estudos, o desejo de realizar exercícios físicos etc. Sempre que nos sentirmos estagnados em nossa suposta ZONA DE CONFORTO, podemos nos lembrar de que nossa Mente está incomodada com as mudanças e, a partir de um objetivo que nos faça mais feliz, buscar a ação. Sair da estagnação demanda movimento; portanto, se julgar necessário, peça ajuda de amigos ou procure um profissional para auxiliá-lo no processo de mudança.
Essa suposta ZONA DE CONFORTO só existirá para aquele que escolher ir contra o fluxo do Universo. Enquanto nos mantivermos firmes no caminho da evolução, perceberemos que, além da alegria do autoconhecimento, sempre deixaremos espaço para alguém ocupar nossas antigas posições no cenário da vida. Então, poderemos considerar que sair da ZONA DE CONFORTO e, por consequência, buscar nosso progresso, pode ser considerado também um ato de amor, pois permite que o Universo e os seres que nele habitam sigam sua expansão natural.

Sobre o autor:
Professor, Neuroeducador, Master Practitioner em PNL e Coaching de vida –é fundador, junto de sua esposa, Sílvia Reze,
do Instituto Recomece.








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