Como ir para o céu?
- Márcio Schitini

- 9 de dez. de 2021
- 4 min de leitura

Como iremos amar ao próximo sem ao menos gostarmos da pessoa que nos tornamos? Como iremos perdoar setenta vezes sete, se não conseguimos sequer perdoar a nós mesmos? Como deixaremos de julgar o próximo, se olhamos para nós com desprezo? Como podemos ter fé, se duvidamos o tempo todo da nossa capacidade?
Fiz essas perguntas na sinopse de meu primeiro livro: “LIÇÕES DE JESUS PARA UM NOVO MUNDO - Dez passos para reprogramar sua mente e mudar a sua vida” (e-book Amazon), justamente porque sempre me pareceu impossível pôr em prática os ensinamentos religiosos e morais que nós, seres em formação, recebemos, sem nos sentirmos culpados pelo peso do insucesso de, na prática, sermos o oposto do que se espera de nós.
Somos egoístas por natureza e, se você não reconhece isso, está na hora de se olhar com mais atenção. Sempre que queremos algo, estamos nos rendendo à nossa Mente, que fará de tudo para atingir seu objetivo, às vezes de forma maquiavélica. Não é preciso ir muito fundo para observar esse tipo de comportamento. Bastam alguns minutos para notar quanto agimos de modo individualista e queremos que nossas verdades prevaleçam.
Vou refrescar sua memória. Você nunca discutiu com alguém para impor uma ideia sua — mesmo que a discussão não levasse a nada? Nunca se irritou no trânsito porque alguém lhe cortou a frente? Jamais se sentiu irritado com aquele governante, mesmo que isso não melhorasse nada na sua vida nem na vida das pessoas? Sequer quis falar algumas verdades para aquele seu vizinho que sempre estaciona na frente daquela garagem que você nunca usa?
Pois é, isso somos nós. Apesar do grande esforço para sermos uma boa pessoa, vivemos às voltas com pensamentos mesquinhos e imaturos. Sentimo-nos ofendidos quando alguém contraria nosso modo de pensar e praguejamos contra aqueles que levantam essa bandeira abertamente. Mas se tudo isso parece tão humano, por que temos tanta dificuldade em cumprir mandamentos e regras tão simples que nos foram impostas desde que nascemos?
Essa é a questão. Somos humanos, mas somos criados como super-heróis capazes de não julgar o próximo e amá-lo incondicionalmente. O que ninguém ainda admitiu é que não dá para fazer isso o tempo todo, e assumir isso é o primeiro passo para tirar o peso do mundo das nossas costas. Sim, julgamos as pessoas pelas razões as mais diversas. Sim, somos invejosos, ciumentos, egoístas, melindrosos e carentes, só para citar algumas deficiências de caráter. Uma rápida análise de seu comportamento diário pode comprovar isso facilmente.
Somos cobrados de sermos “bonzinhos” o tempo todo, mas é impossível dar conta dessa carga. As instituições fizeram isso a vida toda conosco, e nós não reconhecemos nossa incapacidade de arcar com essa “canonização” impetrada pela sociedade. Interpretamos um papel e vivemos um FALSO EU para atender às demandas dessas instituições. E pior: fazemos parte desse drama sem sequer nos apercebemos disso. Vamos vivendo nessa MATRIX, batalhando para nos enquadrarmos nesse sistema.
O dicionário Saraiva define “hipocrisia” como: elocução, declamação; arte, habilidade para imitar a fala, gestos e modos de uma pessoa. Ou seja, como nos palcos gregos, interpretamos um “script” atrás de uma máscara que esconde nossa real personalidade. O que é mais difícil é aceitarmos que, na verdade, somos — cada um de nós, em graus e modalidades diferentes —hipócritas, lendo um roteiro determinado pela sociedade sem a devida coragem de questionarmos quem realmente somos neste mundo.
Uma lenda conta que um discípulo subiu uma grande montanha para buscar um velho sábio que tinha a resposta às perguntas mais profundas deste mundo. Subiu uma montanha gélida e íngreme por dias até chegar à caverna onde residia o tal guru. Chegando lá, posicionou-se sobre uma grande pedra e viu uma silhueta que questionou o porquê de sua presença. Depois de responder a várias perguntas daquela imagem disforme e se irritar com a sua petulância, resolveu se aproximar daquele contorno e percebeu que era nada mais do que sua própria imagem.
As instituições que exigem de você essa santidade nunca lhe disseram como chegar ao céu de verdade. Você tem que amar ao próximo, perdoar, não julgar e ter fé, mas como? Como alcanço essas dádivas apenas ouvindo os discursos daqueles que se julgam nossos guias? Todos os dias, pessoas procuram seus “mestres” para solucionar dificuldades que entravam suas vidas e sempre obtém respostas vazias, baseadas no “você tem quê”.
É fundamental olhar para dentro de si com honestidade e franqueza. Não, ninguém chegará a céu algum sem reconhecer que as respostas para os seus problemas estão dentro de si. Você pode até pedir a ajuda a alguém, mas nunca chegará à verdade que, como disse o Mestre de Nazaré, torná-lo-á livre da escravidão de sua Mente. É nessa caverna que você encontrará seu mestre mais assertivo: você mesmo.

Sobre o autor:
Professor, Neuroeducador, Master Practitioner em PNL e Coaching de vida –é fundador, junto de sua esposa, Sílvia Reze,
do Instituto Recomece.








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