Como fugir da Matrix
- Márcio Schitini

- 23 de set. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 7 de out. de 2021

O sonho de todos nós, seres humanos, é poder criar uma vida de prosperidade, controlando cada etapa de nosso percurso. Para isso, lemos todos os livros possíveis do segmento de autoajuda e fazemos cursos e mais cursos que prometem auxiliar-nos no planejamento e na realização de nossas metas de curto, médio e longo prazos se mantivermos todos os passos determinados nos procedimentos da apostila.
De fato, isso até dá certo para uma minoria que já estava alinhada com seus desejos e objetivos, ou seja, há pessoas que nasceram para estar num mundo competitivo sem pertencer a ele nem ser consumido por ele. O restante dos pobres mortais, no entanto, irá amargar o rótulo de indisciplinados por não seguiram o “script do sucesso” e, naturalmente, não colherão os resultados dessa busca frenética pelo êxito financeiro.
A pergunta que deveria ser feita: será que este planeta comportaria bilhões de pessoas “bem-sucedidas” nos padrões de prosperidade dessa sociedade de consumo extremo? Deve haver alguma razão para que isso não aconteça, imagino! Este planeta azul já está começando a lançar de volta todo o lixo que recebeu durante décadas de descaso. Ademais, sequer temos condições de saber como lidaríamos com uma vida dessas. Talvez, seja a nossa derrocada como seres humanos.
Ou será que ser próspero não tem relação alguma com todo esse frenesi de consumo predatório que o ser humano chamou de sucesso? É fato que existem pessoas que se adaptam bem àquilo que a vida lhes oferece e comportam-se de maneira surpreendentemente mais vívida e próspera do que aqueles que estão sendo engolidos pelos dentes enferrujados das engrenagens dessa máquina velha e obsoleta.
Não estou defendendo uma vida de castidade e pobreza, longe disso! Apenas penso que os bens materiais devem ser ferramentas para que possamos encontrar nossa paz. Afinal, pelo que sabemos, não levaremos desta vida aquilo que temos, mas o que somos. Podemos até ter, sim, porém precisamos nos desapegar da necessidade de ter, de nos confundir com os papeis sociais que exercemos. Tudo isso ficará para trás um dia.
Aquele que busca sua realização no sucesso financeiro acaba tendo de controlar completamente cada passo de sua vida para que o mundo de aparências que criou não desabe. Desde o seu penteado e sua roupa até o carro que dirige e a casa onde mora são baseados em referências externas: o ator de Hollywood, o amigo do trabalho, o vizinho, um parente. Acontece que isso torna a vida desgastante demais.
O custo de querer ser alguém que conflitua com o seu EU VERDADEIRO é um sentimento perturbador de frustração e vazio, que precisa ser preenchido de alguma forma. “Mas nós temos a solução!”: consumir. Você pode comprar produtos a partir de necessidades que sequer existiam. Recorrer a drogas lícitas e ilícitas, presença comum em grandes eventos e até no ambiente de trabalho. Ou, quem sabe, buscar amparo em medicamentos controlados, atitude típica daqueles que — embora não sofram de distúrbios mentais — não querem fugir do mundo real pela porta da drogadição.
Como Neo no filme “Matrix”, somos vítimas de um sistema inteligente que manipula a Mente das pessoas e cria a ilusão de um mundo real enquanto usa nossos cérebros e corpos para produzir energia. Somos fantoches! Alimentamos um sistema que se alimenta do nosso medo e da nossa ignorância. Estamos mergulhados em primeira pessoa num jogo de videogame sem saber que somos manipulados por um joystick que busca ganhar sempre. Parece exagero?
No meu livro “Não seja bonzinho... e ganhará a sobremesa” (e-book Amazon), discuto como as instituições — família, religião e ensino — moldam nossa personalidade visando à manutenção desse “status quo”. Transformar-nos em modelos de cidadão bem-sucedido e “bonzinho” pelo sufocamento de nossa personalidade é o grande fim dessas estruturas sociais. Por que será que, durante toda a História, aqueles que buscaram “sair da caixinha” sempre foram perseguidos?
E para garantir que sua vida privada não fique de fora, temos os grilhões das redes sociais. Quem disse que pessoas bem-sucedidas podem ter problemas? Sempre viajando, malhando, sorrindo (com filtro, de preferência). As famílias estão confraternizando quando, por trás das lentes, digladiam-se como cães e gatos ou fingem que um ou outro não existem dentro da própria casa. Os casais se amam loucamente nas postagens, mas, a cada conflito, ofendem-se como verdadeiros inimigos.
Nessa Matrix, a hipocrisia é obrigatória! O difícil mesmo é olhar para dentro de nós e para as nossas feridas. Somos como “sepulcros caiados”, como afirmara o Mestre de Nazaré há mais de 2000 anos: na aparência, rescendemos justiça e amor; por dentro, somos hipócritas e julgamos sem piedade a todos que cruzam nosso caminho. Está na hora de as máscaras caírem! Será que estamos prontos para ver o que há por trás delas? O que restará quando todo esse sistema cair?

Sobre o autor:
Professor, Neuroeducador, Master Practitioner em PNL e Coaching de vida –é fundador, junto de sua esposa, Sílvia Reze,
do Instituto Recomece.








Comentários